terça-feira, 26 de abril de 2011

Boat Dance, Rôle de Bike e Inglês


Boat Dance
Na última sexta, nós fomos a nossa primeira balada aqui. Uma balada diferente por sinal, num barco. O Extravaganza Boat Dance é organizado pela International House da UC Berkeley, todo no final do ano letivo. Pois diversos estudantes vão embora agora no meio do ano. A Festa foi bem interessante, foram 4 horas navegando pela Baía de San Francisco ao som do DJ. Além do que, pudemos admirar um bonito pôr do sol e ver San Francisco e outras cidades da baía a noite. Como muitos já sabem, não somos de dançar muito, mas aproveitamos bem a festa. Ainda bem que o frio de 4º que estava anunciado não apareceu.


Rolê de Bike
Domingo de páscoa, foi dia de comer ovos de chocolate. Sorte nossa que o coelhinho passou por aqui antes de ir pro Brasil, e deixou alguns ovos. Para os que não sabem, os Americanos não têm ovos de chocolate na páscoa, na cultura deles eles utilizam ovos de plástico com confeitos dentro, bem chato perto dos nossos. Além de comer chocolate, saímos pedalar na ciclovia em torno da Baía de San Francisco. Saímos de Berkeley e fomos até Emeryville. Muito bom curtir o dia pedalando, sentindo o sol e vento no rosto. Pedalamos, aproximadamente, 20km. Agora com as “magrelas” ninguém segura nós dois.


Inglês
De 3 em 3 meses, na escola onde estudo inglês, preciso fazer uma prova do governo para avaliar o meu desempenho. Devido à minha melhora, minhas professoras decidiram me trocar de classe. Subi 2 níveis dentro do nível Intermediário Baixo. Nessa nova classe, que comecei hoje, a galera fala bem melhor e está um pouco na minha frente em relação à gramática. Vou ter que correr atrás para conseguir acompanhar. Novos desafios.

Clique aqui para acessar as fotos do Extravaganza Boat Dance e do Rolê de Bike do Domingo de Páscoa.

Abraços.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Antropofagia



Somos seres antropofágicos. Podemos conhecer uma cultura de várias formas: viajando pelo país, observando os hábitos de seu povo, visitando seus museus e conhecendo sua história, seus valores, admirando sua arquitetura, ouvindo sua música e assistindo sua dança. Mas há um ato que encerra esse conhecer e o transforma em algo mais. Algo que só se realiza como um processo digestivo. Diz-se que é apenas através da comida que aquela cultura passa a fazer parte de você, irremediavelmente: ela se transforma em energia no seu corpo, que, em troca, passa a carregá-la para sempre.

Neste domingo fomos convidados para experimentar a comida típica da Eritréia. Injera é o prato mais saboreado nesse país africano, que atualmente sofre com os mandos e desmandos de um governo autoritário unipartidário. Um restaurante à meia-luz, decorado com pinturas que retratam o dia-a-dia do povo sofrido. O campo, a lavoura, o medo dos animais selvagens, as relações familiares, o caminhar, o café, o hábito de beber café. 

Injera é um pão. Um pão compartilhado que se corta com as mãos e com o qual se envolve a mistura disposta em um grande prato redondo, também compartilhado. No prato: legumes, raízes, carnes e queijo. Tudo muito bem temperado. O tempero – bem marcado, mas não enjoativo ou forte demais – faz bem para o corpo, para se manter a saúde, nos avisou nosso amigo, aconselhando-nos a acrescentar pimenta em nossas receitas diárias. O prato compartilhado talvez faça bem para a alma – fiquei a pensar: em meio aos nossos modos individualistas é impossível pensar em uma refeição genuinamente coletiva, já que cada um tem seu prato e uma relação de propriedade com sua comida. É preciso generosidade e confiança para se comer no mesmo prato (isso, algumas vezes, é admitido dentro de casais apaixonados e mesmo assim não por muito tempo). Uma mistura com a qual não estamos habituados.

Somos seres antropofágicos. E a comida faz também com que nos apropriemos de nossa própria cultura. Ela reforça em nós certa identidade. Parando para pensar, não me lembro de uma semana, desde que chegamos aqui, que não tenhamos comido nalgum dia arroz e feijão – a típica mistura brasileira. Na última semana ficamos felizes ao encontrar polvilho doce no supermercado e fizemos tapioca. É preciso lembrar quem somos para podermos nos relacionar de forma genuína com o que ainda não somos. E a mistura é lenta. A digestão cultural está mais para um processo ruminatório do que para o sapo “não-eu” que se entala na garganta...
 


PS: A pintura do início da postagem, de título Antropofagia, é de Tarsila do Amaral. Retirada de: http://blog.seniorennet.be/waynart/archief.php?ID=346132

sábado, 16 de abril de 2011

Resumo da Semana...




- Futebas
Quarta-feira fui jogador bola com alguns pós doutorandos aqui da UC Berkeley. Fui convidado pelo Maurizio, um amigo italiano. Tinha italiano, alemão, mexicano, suíço entre outras nacionalidades. Bem várzea mesmo, dois golzinhos feitos com tênis, sem goleiro, 4 contra 4. O jogo foi bem legal, o nível esta entre perna de pau e perneta, então me enquadro direitinho...rs... Meu time venceu de 7 a 3, eu fiz 4 gols e fui o artilheiro do jogo...rs... Como não poderia faltar, para um legítimo Bola Murcha, dei uma matada de nariz e um pisão na bola seguido de um tombo FENOMENAIS. Se meu corpo permitir, pois todos os músculos estão doloridos, já que não jogava há 6 meses, eu irei jogar quarta que vem de novo.

- Podemos nos surpreender, positivamente, com as pessoas.
Quinta feira, final de tarde fomos ao mercado e na volta estávamos esperando o sinal abrir para atravessarmos a avenida quando um catador de papelão puxou assunto conosco.
Só para informação, aqui para você catar papelão, garrafas, latas, coisas recicláveis, você precisar de uma autorização. Sem isso, se você estiver mexendo no lixo de alguém, você vai preso. É ILEGAL. Durante a conversa o Anselmo, nome do catador de papelão, disse que ele tira quase mil dólares mês.
Mas o mais interessante o cara deu uma lição de cidadania e reciclagem, conversou conosco sobre as mudanças climáticas causadas por causa do aquecimento global, do corte de árvores na Amazônia, sobre reciclagem, entre tantos outros assuntos. Ficamos cerca de 1 hora, pra mais, conversando com ele. Muitas vezes nos surpreendemos com as pessoas positivamente, se 1/3 da população mundial tivesse a consciência ambiental que ele tem, o mundo seria muito melhor.

- Primeiro trabalho e dinheiro
Desde quando minha autorização de trabalho chegou anuncio meus serviços de "computeiro" em um site de classificados aqui da região, nunca tinha tido um contato. Sexta-feira pela manhã meu celular toca e era um cara interessado, queria que eu verificasse o Desktop dele em Richmond. Como não tenho carro, ele me buscou e fomos verificar o problema, 2 computadores, com diferentes problemas. Tentei solucionar os dois, mas como não tenho muitas ferramentas aqui para testar, não consegui solucionar o problema. Mas dei algumas sugestões para solucioná-los. Não quis receber nada, pois não consegui resolver os problemas, mas o cara insistiu e ganhei meus primeiros dólares. UHHHHHHHUUUUUUUU!!!

- Brazilian Night
Sexta à noite fizemos Tapioca aqui em casa e caipirinha com Cachaça Sagatiba. Uma noite tipicamente brasileira, ao som de Caetano, Chico, Tom, Vinicius entre outros mestres da MPB. Convidamos o Maurizio para experimentar a tapioca, ser nosso cobaia...rs.. Diz ele que gostou. Fizemos salgada e doce, adorei as duas, mas a de leite condensado com morango...hummmmmmm... ESPETACULAR!!! Caipirinha tinha com limão e com morango.
Ao final da noite, quando o Maurizio estava indo embora, avistei no quintal um animal comendo, a principio achei que fosse um big gato, mas não... Era um Gaxinim. Ele estava comendo a comida do gato da vizinha, e o gato, todo bundão, estava se borrando de medo na janela...rs... Bonitinho o bichando... (Veja a foto dele no final do post).

- My English.
To contente com o meu inglês, mesmo cometendo milhares de erros ainda. Essa semana precisei utilizar bastante do meu inglês e consegui me comunicar. Conversei por telefone com algumas pessoas, fiz aulas de conversação na escola, joguei bola, conversei com pessoas na rua e prestei serviço de informática. Completo 3 meses aqui na próxima semana, e a evolução do meu inglês é enorme. Mas ainda tenho muito que melhorar.
PS: To aprendendo Present Perfect na escola... PQP, nunca odiei algo no inglês como to odiando isso. Eita regra gramatical complicada.

- Política. Esperança de melhora?
Sei que não tem nada a ver com a nossa viagem, mas tem a ver com o nosso país. Essa semana li uma reportagem (postei a mesma no meu facebook) sobre o Deputado Federal José Antonio Reguffe. O cara abriu mão do 14º e 15º salários, da cota de passagem, do auxílo moradia, fixou em 9 o número de assessores de gabinete (poderia chegar a 25), entre outros benefícios. Com isso ganhou 513 "inimigos" que tem a mesma função que ele e usam e abusam do dinheiro público. Seria uma luz no fim do túnel em relação aos nossos políticos?


 OBS: Se você quer receber um email informatizo quando postamos novidades no Blog. Envie um email para: alex.beijos@gmail.com

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Vou de bike



Comprei uma bicicleta.

Eu poderia começar esse texto reivindicando os direitos da natureza, defendendo o consumo sustentável do planeta, argumentando sobre os índices de derretimento da calota polar nos últimos anos. Poderia dizer que me filiei ao Partido Verde, ou que me juntei à Massa Crítica em solidariedade às vítimas da irracionalidade alheia (e presente – aliás, só para constar, o nome do movimento é um paradoxo, o primeiro termo anula o segundo, na mesma medida em que o segundo recusa – de forma reflexiva e não ressentida – a entrega ao primeiro; fica a dica aos colegas do métier). Poderia também falar da saúde, do sedentarismo, dos problemas gerados pela falta de exercícios físicos diários. Mas a verdade é uma só: cansei de andar a pé e, como sou apenas uma bolsista, não vou de táxi, vou de bike.

Andar sobre duas rodas não é coisa simples. Há quem diga que quem já o fez nunca se esquece. Eu também não me esqueço da última vez que “pilotei” uma bicicleta. Ela era roxa – exatamente a cor que eu fiquei ao cair bem na frente de um acampamento de escoteiros no Jardim América em Bauru. Eu só tinha 16 (que isso sirva de aviso pra vocês... diria Renato Russo, embora eu não fosse, como o Johnny, fera demais pra vacilar assim). Mas hoje seria tudo diferente, não? Já que foi construída na cidade a famosa “ciclofaixa”, por onde você pode pedalar alegremente pelas madrugadas...

Acho que meu destino era mesmo uma bicicleta. Tínhamos um plano com ela em Piracicaba, mas o trânsito e a má educação nele desencorajam sobremaneira andar pelas ruas das cidades brasileiras, ao menos as de grande e médio porte. Também não tive coragem de me aventurar pelo Promenade em Münster, quando estive lá em 2008. A cidade, conhecida como a capital das bicicletas, tem um volume de bikes que provoca um problema social conhecido por lá como Fahrradchaos (Caos das bicicletas). Mas isso porque o volume de bicicletas é realmente muito grande. Todos andam de bicicleta, de mulheres grávidas e com crianças de colo aos velhinhos sorrateiros. Lá eu era literalmente uma estrangeira, não por ser de outro país, mas porque andava a pé. Transeuntes dividem as calçadas com ciclistas – há uma faixa limitando o espaço de cada um e as guias são todas rebaixadas nas esquinas. Dividem também o Promenade, um jardim que envolve toda a cidade, por onde a maioria das pessoas se locomove de um ponto a outro de Münster. Por aqui não há Promenade, nem faixas especiais para ciclistas. Mas há sim um maior respeito por eles e um trajeto que liga vários pontos da cidade chamados de Bicycle Boulevard, onde as bicicletas têm preferência. As guias também são todas rebaixadas nas esquinas, especialmente como forma de acesso aos que utilizam cadeiras de roda. Os ônibus são equipados com um “porta bicicletas”, para aqueles que desistem de ir pedalando. Você também pode entrar com elas no metrô – desde que não seja em horário de pico. 

Comprei minha bicicleta no último sábado. Dei umas voltas nos parques próximos a minha casa para ir treinando. Não caí e isso já é uma vitória! – especialmente para mim e para as mulheres da minha família que costumam cair simplesmente andando... e ai daquele que der risada! Bem, mas o resultado das voltas ciclísticas já estou sentindo na pele, nos músculos, até no último fio de cabelo... parece que passou um trator por cima de mim! Mas, ainda preciso cumprir alguns processos para finalmente utilizá-la como meio de transporte: primeiro, registrá-la e pegar a licença (em Berkeley há uma lei municipal, segundo a qual as bicicletas devem ser registradas e os ciclistas devem ter suas licenças, para o caso de acidentes ou roubos). Depois, comprar capacete e cadeado. O primeiro não é obrigatório, mas aconselhável, o segundo é necessário: rouba-se muito bicicletas e partes delas por aqui (embora a minha não seja exatamente o que é considerado por aí um sonho de consumo, não dá pra bobear). E por falar em sonho de consumo, falar o que da quantidade de “opções” que se tem? Consumo sustentável sim... aham. Mas essa é uma discussão para outra oportunidade...

A saudosa foto acima é do Promenade de Münster, 
retirada de: www.muensterland-tourismus.de

sábado, 2 de abril de 2011

A luta pela Liberdade e o Sonho Americano...


"... Encontrei meu contato ainda na Eritréia, conversamos um pouco e iniciamos a viagem com destino aos Estados Unidos, onde encontrei parte de minha família e estou buscando uma vida melhor, tentando alcançar o famoso "American Dream". Iniciamos a viagem da Eritréia rumo ao Sudão, foram alguns dias de viagem a pé até chegarmos ao aeroporto, onde eu pude pegar meu passaporte falso e seguir viagem. Caminhamos alguns dias e milhares de quilômetros, mas concluimos o primeiros estágio dessa viagem. Peguei meus documentos, minhas passagens e segui viagem rumo a Dubai. Em Dubai segui para Moscou, de Moscou fui para Cuba e então cheguei no Equador. Os dias foram  passando, e fui chegando cada vez mais perto de alcançar meu objetivo e chegar nos Estados Unidos. Encontrei um novo contato no Equador e juntos com outros imigrantes reiniciei a minha viagem. Do Equador à Colômbia parte fizemos de carro e parte a pé, mas na Colômbia tive os maiores desafios, foram 6 dias dentro de selva fechada, com chuva, andando na beira do rio. Não era possível ver o céu, já que as árvores eram enormes e cobriam tudo, escutávamos a chuva apertar e tínhamos que sair da beira do rio, pois ele enchia e poderia nos arrastar. Foram seis intermináveis dias, da Colômbia ao Panamá, mas conseguimos concluir mais uma etapa da viagem. Seguimos do Panamá para a Costa Rica, depois para Nicarágua, então para Honduras, depois Guatemala e então México, meu último destino antes dos Estados Unidos. Do Panamá ao México viajamos de carro e a pé. No México encontrei meu último contato e seguimos a pé para atravessar a fronteira e nos entregar à polícia americana. Após ser preso, e encaminhado para uma delegacia próximo a Houston, solicitei asilo político e agora aguardo o processo ser concluído..."

Esse relato é de um colega de classe, que veio da Eritréia no ano passado. Essa viagem demorou pouco mais de um mês e ele gastou cerca de 25 mil dólares para chegar até aqui. Dava para escrever um livro contanto com detalhes a viagem dele, mas não é só ele que faz isso, existem milhares. Na Bay Area, região em que moramos, existem muitas pessoas da Etiópia e da Eritréia, e a maioria fez isso para chegar aqui. Todos contam que abandonaram seu país para fugir das guerras e dos ditadores. O Brasil muitas vezes está incluso no itinerário dessa viagem, dizem eles que é melhor descer no Rio do que em São Paulo, pois a fiscalização é mais tranquila. Alguns chegam a ser presos, conheço um que ficou 40 dias preso em Honduras, junto com outras 2 pessoas que estavam com ele fazendo essa viagem. Cada um deles tem uma história diferente, cheia de detalhes, de aventuras, de medos e com problemas, mas todos afirmam que valeu a pena, que fariam tudo de novo para abandonar o país em que viviam e viver aqui. A maioria ainda tem processos na justiça americana, para pegar o green card e ter todos os direitos e deveres aqui. Quantas pessoas devem morrer nesse caminho? 

Hoje em dia, a discussão da moda está entre Egito e Líbia. Movimentos sociais surgem para nos lembrar que a democracia não é algo estabelecido, que ainda não se faz como um direito global. É fato que no continente Africano as ditaduras, as guerrilhas e guerras civis, a fome, as diferenças sociais são gritantes. Trata-se do exemplo contemporâneo daquilo que é a antítese da democracia. Mas, o que é, então, a democracia? Reconheço que não é exatamente o que temos, seja nos EUA, seja no Brasil. Uma democracia plena exige pessoas com autonomia, pessoas com consciência de suas determinações e de suas escolhas - mas, ainda hoje, escolhemos nossos representantes como quem escolhe a marca de um sabonete...

As pessoas que vêm para cá, na mesma situação descrita, têm consciência de que é preferível viver em um lugar em que ao menos se tem a impressão de que se é livre, à conviver com o terror, a opressão diretamente sobre a carne e a realidade de ser propriedade de um país. Elas sabiam que tudo poderia acontecer no meio do caminho, mas estavam dispostas a qualquer coisa para ter ao menos uma chance de conseguir essa tal "liberdade". Eu que nasci já no final da ditadura no Brasil, nunca soube o que é precisar lutar, ou mesmo arriscar a vida, pelo próprio direito de viver. A liberdade, para mim, sempre foi um direito inalienável - ainda que limitado pela conta bancária... para ir e vir, morar, comer, vestir, "ser" é preciso pagar e para pagar é preciso dinheiro, dinheiro conseguido com a venda das minhas horas de vida, vida que se vai todo dia um pouco. 

Somos livres? Talvez seremos no dia em que começarmos a escrever a nossa própria história. Mas, o quanto estamos dispostos a arriscar para sermos mais livres do que somos?