quinta-feira, 24 de março de 2011

Em busca de um espaço no mercado de trabalho...


Comecei a olhar oportunidades de trabalho nos USA antes de vir para cá, para analisar o Mercado e ver se ele estava recuperado da crise, que atingiu os USA e o mundo. As oportunidades existem, muitas por sinal, mas acho que muitas vezes faltam pessoas qualificadas para preencher a vaga, assim como muitas vezes no Brasil. Queria também ter noção de salário por aqui, e a diferença salarial entre USA e Brasil é gritante. O salário mínimo deles é U$1256,00, enquanto o nosso é R$ 545,00, além do mais o poder de comprar também é muito diferente, vou citar um exemplo, um tênis Nike aqui TOP custa uns U$ 160,00, o que representa 12,73% do salário mínimo, no Brasil esse mesmo tênis custa R$ 549,90, o que representa mais de um salário mínimo. Esse foi o exemplo mais fácil que achei para ilustrar isso. Um completo ABSURDO.
Após receber a minha autorização de trabalho, aproximadamente 1 mês atrás, comecei a enviar currículos, e algumas coisas foram acontecendo. Semana passada tive uma entrevista de emprego em uma empresa de TI aqui da região, foi PUNK, além de entender pouquíssimo o que o cara do RH falava, eles aplicaram uma prova com umas 100 questões de informática para responder, algumas bem absurdas como pedir para escrever um MAC Address ou o que significava IMAP, RAM, IPX, entre outras siglas. Sai de lá chateado, puto, mas valeu pela experiência.
Desde então outros contatos foram feitos, por telefone e email, mas uma hora não sirvo por que vou embora ano que vem, outra por que não tenho experiência nos USA só no Brasil, outra por que não conheço um software em específico e assim vai. Isso causa uma montanha russa de sentimentos, cada telefonema, cada contato é uma esperança, mas quando não dá certo, acaba sendo uma decepção. Pelo menos eu estou conseguindo conversar com eles por telefone, isso significa que meu inglês está melhor.
Porém, hoje tive uma experiência desagradável. Um amigo me levou em um supermercado, aqui perto de casa, para ver se tinha vagas, pois ele conhecia uma das funcionárias responsáveis pelo mercado. Ao chegar lá, quando falamos que eu estava procurando emprego a mulher nos tratou com o maior desprezo, pegou o formulário de cadastro por pura insistência desse meu amigo, virou as costas e  nos largou lá, a ver navios. Naquele momento me senti um lixo, um animal, mas sei que não sou nada disso e sei do meu valor, por isso fiquei bem 5 minutos depois, mas fiquei pensando: quantas vezes isso acontece todos os dias? Quantas pessoas não são ignoradas, mal tratadas, pelo simples fato de estarem procurando emprego? Procurar emprego é crime? É fazer mal a alguém? O que tem de errado nisso? E o pior que isso não acontece só aqui, acontece no mundo inteiro. VERGONHOSO!!!

segunda-feira, 21 de março de 2011

... entre natureza e história...

Faz uns bons dias que não escrevo no blog. Muita coisa tem acontecido no mundo e tenho pensado bastante no mistério representado pela relação entre a nossa história – como civilização, cultura, humanidade etc. – e os acontecimentos naturais.

Como todos sabem, estamos em uma região propícia a tremores de terra e próximos do Oceano Pacífico (que não é tão pacífico assim...). Aqui há folhetos - por todos os lados – sobre como se comportar em caso de um desastre natural, incêndio, ou mesmo um ataque terrorista. Escolas em que os alunos se saem bem nos testes de conhecimentos a respeito dessas situações recebem mais verba do governo. Há certo preparo da população e algumas construções têm tecnologia anti-terremoto, como muitas no Japão onde ainda existe muita gente desaparecida depois do terremoto/tsunami de sexta (11/03).
Qual será a marca que esse evento vai deixar em nossa história? Diz-se que se não fosse a tecnologia existente em milhares de construções, a destruição teria sido muito maior. Calcula-se um gasto inicial de 200 bilhões de Euros para reconstruir o país e, infelizmente, calcula-se também o número de mortos – não fosse apenas a própria barbaridade do cálculo, ele aparece abaixo do discurso do Obama no Rio e seguindo-se da notícia da falta de ganhadores da Mega Sena. Quem são as pessoas que viraram números nos noticiários sensacionalistas? Talvez as mesmas que, por conta da história – e NÃO da natureza – não podem contar com os desenvolvimentos científicos e tecnológicos que deveriam, em primeira instância, tornar a nossa vida digna de ser vivida. O que, a princípio, parece ser culpa da natureza e nos é vendido como fatalidade, destino, é, em verdade, mais uma demonstração dos rumos da nossa história, das escolhas da nossa “civilização”.  
Thomas Wheatland escreveu, em The Frankfurt School in Exile (um dos livros que estou lendo para minha tese – indicação do Jay) uma frase simples e verdadeira, mas que fez muito sentido pra mim naquela sexta-feira. De memória, ela diz mais ou menos o seguinte: não sabemos os desenvolvimentos que poderia ter tido a Teoria Crítica caso Walter Benjamin tivesse sobrevivido ao nazismo. Benjamin morreu na fronteira da França com a Espanha – pego pela GESTAPO, “optou” pelo suicídio. Nada mais natural que a morte. Nada mais bárbaro do que a morte que não é natural ou que, sendo, apenas o é porque o controle da mãe natureza se restringe aos primogênitos do poder.

Enquanto isso... nas Universidades...

Benjamin era amigo de Adorno. Adorno era casado com Gretel. Gretel trocava cartas íntimas com Benjamin. Foreplay é o nome da peça de teatro escrita por Carl Djerassi onde o drama se desenvolve e a reputação de Adorno – que teria sido traído pela esposa e tido um caso com uma aluna – é salva por Hanna Arendt (que teve um caso com seu professor, Heidegger) – inimiga do filósofo temperamental. A peça foi encenada na UC Berkeley na segunda-feira passada. Interessante experimento de um pesquisador que revela mais suas curiosidades e fantasias sobre seu “mentor” do que acrescenta cultural e artisticamente. Mais uma pegadinha da natureza? Ou seria da história?  

segunda-feira, 14 de março de 2011

St. Patrick's Parade



O passeio de sábado estava planejado, iríamos caminhar pela famosa Golden Gate Bridge, mas uma foto postada pelo Thiago no Facebook,  minutos antes de sairmos (mais o medo da Dehzinha de passear perto do mar depois do tsunami no Pacífico), alterou os nossos planos. Descobrimos que era dia de festividades de St. Patrick e teria a 160th St. Patrick’s Parade em San Francisco – lá fomos nós explorar a cultura americana.
Se você quiser saber um pouco sobre quem foi St.Patrick, clique aqui.
Quando chegamos na famosa St. Patrick’s Parade acabamos nos sentindo dois estranhos entre a multidão... Quase todo mundo vestia verde, ou usava um chapéu/cabelo verde, ou com algo em referência a St. Patrick e nós, um de amarelo e a outra de rosa.
O Desfile foi interessante, teve dança, música, policiais e bombeiros em trajes de gala, doces e brinquedos para as crianças (os carros passavam e jogavam os doces e brinquedos, eu peguei alguns doces). Mas até um desfile de St. Patrick pode ser tornar algo usado para o famoso “merchan”. Empresas utilizam os carros e o desfile para fazer propaganda e políticos passam dando “tchauzinho” para o público e fazendo a propaganda política deles. É mole??!!
O ponto final do desfile era no Civic Center, onde tinha barracas de comida típica Irlandesa e Americana, de bugigangas e shows típicos Irlandeses, bastante gente e um pouco de fila como em qualquer quermesse.
Após o desfile voltamos para o centro de San Francisco, almoçamos comida mexicana em um restaurante muito bom perto do Yerba Buena Gardens, passeamos pela Union Square, pela Chinatown e nos deparamos com um artista de rua tocando Vinicius de Moraes, DEMAIS.
Não nos vestimos de verde e não tomamos Guinness - muitos disseram que nossa participação no St. Patrick’s Parade foi nula. Se tiver novas festividades no dia 17, verdadeiro dia de St. Patrick, tentaremos mudar a opinião da galera.
Clique aqui para ver as fotos do passeio.


domingo, 6 de março de 2011

Tutti Buona Gente


Fico impressionado com a quantidade de pessoas de diferentes países que estou conhecendo aqui.  Nunca pensei que conheceria pessoas da África (de países que eu nem sabia que existiam), da China, da Mongólia, de vários países da Europa e da América do Sul – é como se o mundo inteiro se encontrasse em Berkeley.
Na última quinta-feira saímos jantar com uma turma de italianos, parte dessa turma estuda inglês conosco nas quintas à noite; também foi com a gente um tibetano. No total éramos 11 pessoas: 2 brasileiros (nós), 8 italianos e 1 tibetano. Todos são, como a Deh, “Visiting Scholars” na UC Berkeley, somente eu que não - to começando a pensar em estudar aqui também...rs...
Italianos são “Tutti Buona Gente”, sangue quente, falam bastante, amam futebol e são animados. Dessa forma, estabelecer um diálogo fica muito mais fácil e acaba fluindo com naturalidade. Conversamos sobre diversos assuntos, desde futebol (que sempre abre portas), tecnologia, viagens, política (a eleição da Dilma está “na crista da onda”), até sobre a extradição de Cesare Battisti. O Tibetano também é gente fina, professor de Filosofia Budista na UC Berkeley, mas é um “pouco” mais tranqüilo que os italianos. Além disso, pela primeira vez conhecemos um pouco da noite de Berkeley, fomos num barzinho bem movimentado chamado “Júpiter”, com vários ambientes e decoração dos deuses romanos.
Estávamos sentindo falta de amizade, sair, conversar, trocar experiências; é sempre bom fazer isso. E durante essa troca de experiências, acabamos conhecendo um italiano que é fã Caetano Veloso - disse ele que sabe cantar a música “Sozinho” (entre outras), e que sua preferida é “Terra” (com o lembrete de que foi composta durante o exílio no período do regime militar).
Foram horas e horas de papo em inglês, que serviu para eu enxergar que meu inglês já está bem melhor, que já consigo me comunicar, mesmo cometendo erros, afinal conversei a noite toda com eles. O nível de dificuldade em uma conversa aumenta mais quando falamos com americanos, é completamente diferente. Mas espero que em breve eu também consiga me comunicar com eles com mais tranqüilidade e segurança. A luta continua...
Foto tirada do site: http://jupiterbeer.com/jupiter/

quarta-feira, 2 de março de 2011

A change, please!



A Universidade da Califórnia, em Berkeley, está localizada bem no centro da cidade. Próximo da entrada oeste do Campus você pode pegar o metrô (BART) e ir para vários lugares e cidades da Bay Area (incluindo San Francisco). Como todo centro, é onde você também testemunha muita da chamada “diferença social”. É onde o dinheiro circula. Onde quem tem gasta, quem não tem, fica ali na esperança de que sobre alguma coisa para ele.
Não é possível passar ileso pelo centro de Berkeley. A cada esquina nos deparamos com alguém pedindo um “change”. Alguns especificam em placas quantos dias está sem trabalho. Outros, para quê precisam do dinheiro – seja para comprar comida, café ou rum.  Como em qualquer cidade do mundo capitalista, a miséria, a marginalidade e a exclusão social, são irmãs siamesas das grandes fortunas, da ampla oferta de mercadorias, do consumo exacerbado. Convivem lado a lado.
“A change, please!”, significa, literalmente, “Um troco, por favor!”. Mas, na língua inglesa, é possível inferir muito mais do que isso. Change, como verbo, significa transformar, trocar, substituir, alterar, mudar.  Aliás, confesso que logo que cheguei aqui fiquei surpresa com aquele uso que desconhecia da palavra. Ela sempre teve, para mim, um significado positivo - e foi difícil lidar com a dura realidade de que “change” pode também significar “miséria”.  Miséria no país da abundância.
Mas, a miséria, por revelar as contradições, as falhas e a perversidade de determinado estado de coisas, não roga, exatamente, por alguma transformação?
Fico pensando, então, se o pedido não seria duplo! Qual interpretação você prefere? Ao procurar uma figura para esse post, encontrei o rapaz abaixo. Quanta sinceridade no trocadilho... ou seria a revelação do quanto somos levianos e hipócritas, mesmo quando falamos em tais mudanças?