domingo, 25 de setembro de 2011

Se o inconsciente é linguagem...


Outro dia compartilhei no facebook minha árdua tarefa de escrever um paper para uma conferência que irei participar em Outubro na Pensilvânia. Eu sabia que ninguém poderia me ajudar, mas precisava ao menos dizer “socorro!”. Um breve desabafo pra deixar as energias fluírem e não descontar nos livros, no notebook ou mesmo no coitado do Alex. Naquele momento, entre os comentários carinhosos que recebi de vários amigos, o Amauri me lembrou que “é difícil escrever em qualquer língua”! Não, ele não estava querendo me desanimar. Estava sim querendo me lembrar que se sou capaz de escrever em Português, sou bem capaz de fazê-lo em Inglês. Quanto à dificuldade: Verdade. Linguagem (do que a escrita é apenas uma parte) é uma coisa traiçoeira. Diz muito quando queremos esconder – pra falar um pouco dos chistes e atos falhos freudianos – e não diz absolutamente nada, quando precisamos propositalmente comunicar o essencial.

Escrevi o paper em três dias. Tempo recorde (tirando o que apresentei no Campus de Excelencia que preparei na noite anterior, porque até então não sabia que a apresentação seria oral). Normalmente reservo uma semana para escrever textos para congressos. Mas nesse caso já estava “tudo” na minha cabeça. O paper é um resumo malacabado dos três primeiros capítulos da minha tese. Digo isso não por baixa auto-estima, mas porque é impossível resumir, com perfeição, 150 páginas em 10. Você pode perguntar: Mas Deborah, sua louca, por que querer dizer tudo em tão pouco tempo (ou espaço)? Porque quero colocar minhas idéias à prova (a defesa está chegando – “você está atrasada” como diria o coelho à Alice), e elas precisam estar conectadas. Complexo assim.

Li e reli o artigo. Imprimi, li novamente "no papel” (é incrível como a tela do computador consegue esconder coisas!), encontrei erros, arrumei, reli, re-arrumei. Insegurança n. 1 – Se eu cometo erros em Português que passam batidos pelos vícios de se ler o próprio texto, como não cometê-los em Inglês que não é minha língua materna? Insegurança n. 2 – Eu não inseri no artigo algumas sugestões do Jay, porque eu... como dizer... eu não concordo! Ok, pode parecer petulância, mas não consigo – e isso é uma coisa moral – defender algo que pra mim não faz o menor sentido (ainda que eu possa vir a mudar de ideia; mas aí a coisa muda de figura...).

Entreguei o texto para o Jay, depois de uma breve conversa sobre os avanços ou não da tese. Ao que ele me agradeceu a visita e reforçou meu comportamento de levar questões para serem discutidas no horário de atendimento aos alunos (sim, eu acho que ele é adepto do reforço positivo). Ele me disse que leria e me daria um feedback o mais breve possível, já que devo enviar o texto completo pra organização da conferência no próximo dia 03. Enquanto isso... suspense... 

Vou te dizer uma coisa. Faz uns aninhos que um orientador não lê um texto meu antes de eventos. Não vou discutir o motivo. Prefiro acreditar na tese segundo a qual eles botam fé no meu trabalho. Mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, dá um medo ter um texto revisado por um especialista em Teoria Crítica do porte do Jay. O desespero é ainda maior quando, depois de 15 dias, ele me diz que ainda está na metade do artigo porque corrigir os erros estava dando muito trabalho (ops, isso não foi um reforço positivo!). No mesmo dia, o Fabio Durão compartilhou a seguinte chage, com a qual – paranoicamente ou não – eu me identifiquei imediatamente:



Imaginou como foi a semana de crise existencial? 

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Final da aula dessa sexta-feira: Deborah, você pode passar na minha sala entre as 3 e 4? Eu já terminei de ler seu texto. Mas é claro! (nó na garganta).

Aqui está, corrigi algumas pontuações e preposições, coisas que só um “native speaker” consegue fazer. Ao que, descrente e olhando o texto em minhas mãos, eu respondo: só isso? Confesso que pensei que estivesse pior!

Pois é, como disse, era necessário que um “native speaker” corrigisse e foi o que eu fiz, mas não mudei nada estilisticamente.

Em casa, Alex me pergunta: Você tem certeza que ele disse que estava demorando pra ler porque tinha muitos erros? Se ele disse, eu não sei mais, mas foi o que eu ouvi.

Linguagem, essa moça traiçoeira!

(um ponto pro Lacan)

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Tradução do quadrinho
"Eu fiz uns poucos ajustes no rascunho que você me mandou"
"Você... reescreveu tudo."
"Sim, é mais fácil pra mim reescrevê-lo do que apontar tudo que você fez errado. Eu chamo isso aprendizagem por demonstração"
"O que nós estamos demonstrando?"
"Que você é um mau escritor"

"PHD Comics" faz piadas com as agruras do mundo acadêmico: www.phdcomics.com
(o quadrinho do dia 23.09 responde algumas dúvidas... ou não).

Um comentário:

Helena G. S. Leme disse...

Deborah querida, sei que não precisa dizer "eu disse que você daria conta!" e sei que sua autoestima também é positiva, mas, girl, you are way above the average! Congratulations. Miss you two...abs,
Helena Leme