segunda-feira, 11 de abril de 2011

Vou de bike



Comprei uma bicicleta.

Eu poderia começar esse texto reivindicando os direitos da natureza, defendendo o consumo sustentável do planeta, argumentando sobre os índices de derretimento da calota polar nos últimos anos. Poderia dizer que me filiei ao Partido Verde, ou que me juntei à Massa Crítica em solidariedade às vítimas da irracionalidade alheia (e presente – aliás, só para constar, o nome do movimento é um paradoxo, o primeiro termo anula o segundo, na mesma medida em que o segundo recusa – de forma reflexiva e não ressentida – a entrega ao primeiro; fica a dica aos colegas do métier). Poderia também falar da saúde, do sedentarismo, dos problemas gerados pela falta de exercícios físicos diários. Mas a verdade é uma só: cansei de andar a pé e, como sou apenas uma bolsista, não vou de táxi, vou de bike.

Andar sobre duas rodas não é coisa simples. Há quem diga que quem já o fez nunca se esquece. Eu também não me esqueço da última vez que “pilotei” uma bicicleta. Ela era roxa – exatamente a cor que eu fiquei ao cair bem na frente de um acampamento de escoteiros no Jardim América em Bauru. Eu só tinha 16 (que isso sirva de aviso pra vocês... diria Renato Russo, embora eu não fosse, como o Johnny, fera demais pra vacilar assim). Mas hoje seria tudo diferente, não? Já que foi construída na cidade a famosa “ciclofaixa”, por onde você pode pedalar alegremente pelas madrugadas...

Acho que meu destino era mesmo uma bicicleta. Tínhamos um plano com ela em Piracicaba, mas o trânsito e a má educação nele desencorajam sobremaneira andar pelas ruas das cidades brasileiras, ao menos as de grande e médio porte. Também não tive coragem de me aventurar pelo Promenade em Münster, quando estive lá em 2008. A cidade, conhecida como a capital das bicicletas, tem um volume de bikes que provoca um problema social conhecido por lá como Fahrradchaos (Caos das bicicletas). Mas isso porque o volume de bicicletas é realmente muito grande. Todos andam de bicicleta, de mulheres grávidas e com crianças de colo aos velhinhos sorrateiros. Lá eu era literalmente uma estrangeira, não por ser de outro país, mas porque andava a pé. Transeuntes dividem as calçadas com ciclistas – há uma faixa limitando o espaço de cada um e as guias são todas rebaixadas nas esquinas. Dividem também o Promenade, um jardim que envolve toda a cidade, por onde a maioria das pessoas se locomove de um ponto a outro de Münster. Por aqui não há Promenade, nem faixas especiais para ciclistas. Mas há sim um maior respeito por eles e um trajeto que liga vários pontos da cidade chamados de Bicycle Boulevard, onde as bicicletas têm preferência. As guias também são todas rebaixadas nas esquinas, especialmente como forma de acesso aos que utilizam cadeiras de roda. Os ônibus são equipados com um “porta bicicletas”, para aqueles que desistem de ir pedalando. Você também pode entrar com elas no metrô – desde que não seja em horário de pico. 

Comprei minha bicicleta no último sábado. Dei umas voltas nos parques próximos a minha casa para ir treinando. Não caí e isso já é uma vitória! – especialmente para mim e para as mulheres da minha família que costumam cair simplesmente andando... e ai daquele que der risada! Bem, mas o resultado das voltas ciclísticas já estou sentindo na pele, nos músculos, até no último fio de cabelo... parece que passou um trator por cima de mim! Mas, ainda preciso cumprir alguns processos para finalmente utilizá-la como meio de transporte: primeiro, registrá-la e pegar a licença (em Berkeley há uma lei municipal, segundo a qual as bicicletas devem ser registradas e os ciclistas devem ter suas licenças, para o caso de acidentes ou roubos). Depois, comprar capacete e cadeado. O primeiro não é obrigatório, mas aconselhável, o segundo é necessário: rouba-se muito bicicletas e partes delas por aqui (embora a minha não seja exatamente o que é considerado por aí um sonho de consumo, não dá pra bobear). E por falar em sonho de consumo, falar o que da quantidade de “opções” que se tem? Consumo sustentável sim... aham. Mas essa é uma discussão para outra oportunidade...

A saudosa foto acima é do Promenade de Münster, 
retirada de: www.muensterland-tourismus.de

2 comentários:

Telma disse...

Deh tira uma fotinho pra eu ver! pode ser uma daquelas fotos da fase-pé.. ou da fase-sombra :)

((o blogspot tá cheio de demandas! uma via sacra comentar!))

Deborah disse...

Telll,
https://picasaweb.google.com/116641777590973297898/VouDeBike?authkey=Gv1sRgCKCaovCEuI7OgwE#
Link pra umas fotos da bike.
Bjoks!