segunda-feira, 27 de junho de 2011

In pride we trust



No final do século XIX, Freud desafiou Viena e o mundo com suas teorias sobre a sexualidade. Ainda hoje, século XXI, poucos assuntos são tão difíceis de tratar quanto este. A sexualidade, em qualquer direção, é tabu.  É difícil compreender como a sociedade avança a passos largos a respeito de determinados conhecimentos, e tão lentamente quando se trata da moral. Sim, porque essa é uma questão moral, não no sentido de certo ou errado, de bem ou mal, mas de costume e de comportamento ético para além de regras impostas a nós por quem quer que seja.

Quando adolescente, me lembro de ter lido em uma revista um debate sobre orientação sexual (na época chamada de escolha). Eu não tinha a menor idéia da profissão que eu seguiria, não estava pensando sobre que curso de graduação faria. Mas, me lembro bem que a reportagem afirmava que embora a ciência não estivesse certa dos motivos que levam alguém a ser homo ou hetero, nenhuma das duas orientações poderia ser considerada uma doença, e um psicólogo não poderia tratar a homossexualidade como tal; essa conduta poderia acarretar inclusive na perda de sua licença para exercer a profissão. Não tenho conhecimento de um caso em que isso aconteceu a algum psicólogo, mas já ouvi por aí relatos de pessoas que tentaram se “curar” da orientação afetiva com a ajuda desses profissionais. Mas, voltando à questão, achei a afirmação contundente. Vivendo em um mundo de preconceitos – e tendo ouvido muitas vezes o oposto do que estava na revista – comecei a questionar esses valores e a perceber que o mundo dos adultos (diferentemente do que minha ilusão infantil gostaria de acreditar) não é definitivo e seguro, ao contrário, é um mundo de incertezas e indefinições que precisam ser encaradas, e muitas vezes desmascaradas, porque estão disfarçadas de verdade absoluta. É necessário que tenhamos certezas? Talvez não.

Depois de me orgulhar da aprovação da lei que permite a união civil entre homossexuais no Brasil e de tentar entender a complicada história do Estado da Califórnia em relação a aprovação ou desaprovação  do casamento entre pessoas do mesmo sexo (atualmente não permitido), resolvi  experienciar a famosa “Parada Gay” de São Francisco, que comemorou esse ano seu 41º aniversário.  Eu não poderia ter feito algo melhor desse último domingo de junho.  O que eu vi lá? Algumas coisas: luta-se por direitos iguais, e não a mais; homo/hetero afetividade não tem relação direta com caráter; crianças são felizes com seus dois pais e suas duas mães; cada vez mais ramos da sociedade têm apoiado a causa, incluindo escolas, igrejas de diferentes religiões, e policiais; a sociedade se muda com movimentos políticos, e a consciência é um deles. 

Clique aqui para algumas fotos da 41ª San Francisco LGBT Pride Parade.

Um comentário:

Vinícius disse...

Muito interessante seu texto Deborah!

No próximo final de semana, São Carlos também realiza a sua Parada, pelo terceiro ano seguido. Numa cidade bastante conservadora como essa, é um fato a se comemorar. Nos dois primeiros anos, tudo ocorreu muito bem, mesmo com oposição de muita gente por aqui. Espero que nesse ano seja ainda melhor.

No entanto, em nível nacional, o debate a esse respeito me parece cada vez mais difícl. Toda semana sai uma "declaração" de alguém contrário aos direitos iguais para homo/heteroafetivos. A última foi uma famosa (ex-)atriz da Globo, agora deputada no RJ, Myrian Rios, que exigiu seu direito de "não ter ou poder demitir um empregado homossexual". Enfim, a discussão parece interminável...