quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Suddenly Califórnia



"De repente, não mais que de repente..." disse o poeta Vinicius de Moraes, a respeito de um grande amor que se desfez. E essa história não começa de forma diferente. É preciso que algo se desfaça para que o novo aconteça, sem deixar de trazer consigo a memória e o melhor daquilo que se foi. É o ciclo da vida. É o desenrolar da história, seja universal, seja a nossa em particular.

Tudo começou com uma insatisfação. Com uma sensação de que a vida poderia ser mais bem aproveitada, de que meu trabalho poderia ser desenvolvido para além do que, naquele momento, estava me parecendo óbvio. O cotidiano estava cinzento demais, e a morte - eterna companheira dos que vivem - tornou tudo confuso e claro: era preciso ser mais.

Ser mais significa arriscar. Significa ir além do que está dado. Significa se responsabilizar. Ousar. Ousar saber, diria Kant, o filósofo prussiano. Mas é sempre tudo tão racional? Muito pouco, atualmente, eu diria. Foi com razão e desrazão que redigi uma curta mensagem eletrônica para um grande pesquisador da Universidade da Califórnia, Berkeley. Ali descrevi, em linhas gerais, meu trabalho - que trata de uma pesquisa que fora desenvolviva na UC Berkeley em 1945 - e perguntei se havia algum arquivo ou documento que poderia me interessar nessa Universidade. A resposta veio no dia seguinte: "gostaria de discutir seu projeto com você, você poderia vir na primavera de 2011?"

Era fevereiro de 2010. Uma luta diária começou para tornar possível um "sim": qualificação da tese de doutorado, redação de projeto para a CAPES, pedido de bolsa, TOEFL, aprovação pela UC Berkeley, visto americano. Foram tantos os desafios que, se sabidos anteriormente, provavelmente me fariam pensar que não existiriam forças. Houve dias em que desistir parecia a possibilidade mais plausível. Seja pelas milhares de taxas que brotavam para serem pagas, pelo medo de não ser capaz, pelo olhar invejoso do outro. O medo era de todas as possibilidades: de conseguir e de não conseguir - dizia eu todos os dias para o Alex.

Conseguir significava uma vitória. Uma conquista individual e uma superação. Mas significava também a distância, com a qual será que teríamos capacidade de lidar? Não conseguir era a decepção, mas era continuar no conforto do desde sempre o mesmo. Era a certeza - se podemos dizer que há certezas assim - de estar definitivamente perto.

Passo por passo, dia após dia, os resultados foram aparecendo no decorrer de 2010. Terminei o ano cansada, esgotada, mas com a certeza de que o verdadeiro motivo de tudo isso está apenas começando. Os desafios - muitos, com certeza - ainda estão por vir. Quanto aos medos... fico com a vitória e com o definitivamente perto. Vitória dupla, na reta final.   De repente, não mais que de repente...

2 comentários:

Unknown disse...

Deborah e Alex, sempre admirei muito vocês dois. O Alex quando o conheci na BOxfile com seu jeito de ser se tornou logo um amigo e você Deborah (como não a conheci pessoalmente) ficava só com as coisas que o Alex (eterno apaixonado) falava de você (sempre muito bem). Torço muito pelo sucesso dos dois, vocês estão no caminho certo, o desafio foi lançado e tenho certeza que juntos vocês terão grandes vitórias.

Bjo
Elaine Gisele

Merilin Baldan disse...

Que postagem linda! Algumas coisas, na vida de algumas pessoas, se deve a coragem de saber que podemos, mas também o reconhecimento de que somos passíveis de erros. Acredito que vocês (confesso que conheço bem pouco o Alex) tenham essa capacidade de se doar ao que fazem, sabem muito e são, sem dúvida, um "modelo" (no bom sentido) que evocam admiração dos que estão ao redor de vocês, mas nem por isso, se arrogam de qualquer título. Isso é apenas o começo... e eu fico torcendo por vocês!

Abraços,
Merilin