quarta-feira, 4 de maio de 2011

Avaliação da primavera



Semana passada foi a última semana do semestre com aulas regulares na UC. Para mim, foi a melhor semana de todas. Foi o enlace dos processos que se abriram em janeiro, de todas as reflexões – tudo encontrou um sentido, embora e por bem, não as respostas. Para mim também foi importante porque foram os momentos em que mais consegui me envolver de forma ativa nas discussões, contribuir e pôr à prova o que tenho pensado a partir de tantas leituras somadas ao que eu já tinha em mim, ao invés de “apenas” surrupiar o conhecimento alheio. 

Essa foi também a semana em que eu terminei de ler o livro mais difícil que li até hoje. “Teoria Estética” de Adorno. Posso dizer que foi uma vitória. Esse é um livro que marcou minha formação muito antes de lê-lo. Era, no meu imaginário, uma espécie de “livro proibido”. Lembro-me de um diálogo em que eu, uma inocente estudante de iniciação científica, perguntei ao meu orientador:

- Mas, o que é arte?; Eis que ele me responde:

- Também não sei!; Alegre, retruco: 

- Encontrei um livro na biblioteca, chama-se “Teoria Estética”, talvez contenha a resposta! 

- Melhor não.

Não o culpem pela negativa tão enfática. Eu também não recomendaria essa leitura para um aluno de graduação – a não ser que ele fosse um gênio, coisa que eu nunca fui. Sete anos depois, descubro que minha pergunta não tem valor nenhum. Descubro também que o melhor na arte é aquilo que não pode ser capturado e que isso não significa pura subjetividade, mas subjetividade mediada: objetividade, mesmo aquela que ainda não existe. Descubro que a ciência necessita do comportamento estético para cumprir o seu papel, e que uma pergunta que ficou sem resposta no passado encontrou seu ciclo e vai me ajudar a escrever mais um capítulo da minha tese...

Mais um capítulo da tese... Terminadas as aulas, chegou a hora de tentar colocar no papel ao menos parte das coisas que estou aprendendo por aqui. Digo parte, porque nem tudo cabe ali e não é possível forçar apenas para demonstrar que se sabe ou que se leu - isso tem mais a ver com a falta do que com a completude. Parte também porque há muita coisa ainda para ser digerida. Aliás, indigestão foi um sentimento recorrente, dia após dia. Como eu escrevi em um texto no início do blog, lê-se muito por aqui, e, por isso, logo me dei conta de que toda semana eu teria que tomar uma decisão: ou lia tudo sem parar para pensar, ou lia aos poucos, fazendo anotações e refletindo (como fazia no Brasil); e aí nem sempre eu consegui chegar até o fim. Impossível fugir do mal-estar. Quando lia tudo, sentia-me nauseada. E não estou fazendo uso de figura de linguagem. O sentimento era mesmo físico, somado a uma dor psíquica: traição para comigo e para com o autor – o que dessas leituras realmente fica? O que pensaria Kant de alguém que leu sua primeira Crítica “em uma sentada”? Por outro lado, é impossível escapar do sentimento de derrota quando não se dá conta de tudo que você assumiu para consigo mesmo. A antiga questão retorna: quantidade ou qualidade? Na tentativa de unir ambas sinto-me a criança do quadrinho que leu Dostoievski.

Com todas essas contradições e talvez mesmo por causa delas, posso dizer que tudo tem valido a pena. Se meu estágio terminasse hoje, voltaria para casa contente e com uma mente borbulhante, ávida para “fazer acontecer”. Como ainda tenho bons meses pela frente, continuo por aqui aberta ao que virá. 

Figura retirada de: http://jpsblog.org/wp-content/uploads/2009/11/10-tip-reading-books-knowlegde-seo-dota-read-300x254.jpg

Um comentário:

Telma disse...

Deh q post especial! :) adorei ele!

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