terça-feira, 31 de maio de 2011

Um dia para lembrar


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Memorial Day, 30 de Maio. Feriado nacional nos Estados Unidos, esse é um dia para se lembrar dos assim chamados heróis de guerra. Daqueles que lutaram e morreram em busca de liberdade e por seu país, aqueles que morreram pela vida (ou acreditando nisso, ao menos). É um dos poucos feriados que passamos aqui em que a maioria dos estabelecimentos encontrava-se fechada. O que fizemos nesse dia? Um típico passeio americano, adequado à data: fomos conhecer o USS Hornet, um navio porta-aviões utilizado em muitas guerras, entre as quais a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnam – também utilizado em missões espaciais como a Apolo 11. 

O USS Hornet está atracado na cidade de Alameda, da qual Berkeley é distrito. Ele foi transformado em um Museu. Eu não imaginava que veria uma testemunha das grandes guerras de tão perto. O navio é algo monstruoso, em tamanho, porte, organização e possibilidades. Primeiro fizemos um “tour” pela parte de dentro. Exploramos como quem não é convidado e vai passando pelos corredores a descobrir os caminhos do que mais parece um labirinto mal-assombrado. Passamos por quartos, banheiro, cozinha, enfermaria, escritórios. Tudo cheio demais de vida – e de morte, ao mesmo tempo. Foi a parte que mais me assustou. É como se eu estivesse vendo o cotidiano daqueles moços, como se alguns tivessem acabado de se levantar, outro saído da enfermaria e algum deixado um livro aberto no escritório... Pensando bem, não é um passado tão distante assim.

Como era um dia especial, houve um discurso em honra aos oficiais de guerra que morreram em combate. Os oficiais presentes falavam em memória, em não deixar-se esquecer daqueles que lutaram pela liberdade, em ensinar às crianças os valores americanos pelos quais muitos lutaram. O Memorial Day, contudo, sequer se lembra dos massacres das guerras – eu diria que é um dia de memória seletiva. Bem, se memória é essencial para não se cometer os mesmos erros do passado, o que dizer desse tipo de comemoração? Verdade verdadeira, é um feriado claramente feito para reforçar ainda mais o patriotismo e a ideologia americanos.  Famosa é a asserção de que não existe socialismo em um único país, concluo aqui que a democracia padece do mesmo mal.

Depois do discurso, fizemos um “tour” guiado na parte de cima do Navio, onde só se pode ir com guia. Os guias são militares aposentados – muitos serviram ali mesmo, no USS Hornet. Nosso guia era um piloto de aviões muito orgulhoso de seu ofício.  Na cabine de controle, ele fez questão de nos explicar os procedimentos de pouso e decolagem. Enfatizou a organização e a padronização dos procedimentos tão importantes para a eficiência que alcançaram. Segundo ele, conversas apenas existiam quando algo de errado tinha sido feito – do contrário, ninguém precisava abrir a boca, cada um sabia seu lugar, o que, quando e como fazer, e os procedimentos eram “cirúrgicos”.  Duas ocorrências, contudo, quebraram o “decoro” da situação:  as crianças subindo e descendo da poltrona do comandante com a alegria que só elas encontram em um lugar sombrio como aquele, e um velho tripulante que, quando indagado pelo nosso piloto sobre suas histórias no navio, simplesmente respondeu: “Não tenho história alguma para contar”. 

Clique aqui e veja parte do que vimos.

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