segunda-feira, 23 de maio de 2011

Santa Cruz, Monterey e Carmel by the sea…





Günther Anders, sobrinho de Walter Benjamin, descreveu uma alegoria do homem contemporâneo. Trata-se do que ele chamou de homem no banho de sol: aquele que não consegue ficar por um momento sequer sem ter grande parte dos sentidos ocupados. Imagine alguém na praia, deitado sobre sua toalha, mas, ao mesmo tempo, tomado por diversas “pseudo-atividades”: ouvindo música em seu I-Pod, lendo uma revista (hoje em dia em papel ou formato digital), queimando a pele com seu super bronzeador, etc. Santa Cruz, primeira cidade em que paramos, me fez lembrar tal alegoria. Na realidade, me fez sentir certa nostalgia desse tipo antropológico de homem. Alguém que, na verdade, é chamado aqui nos EUA, com toda naturalidade, de multitask (multitarefa). “Os jovens aqui são multitask”, diz, em tom de crítica, minha professora de inglês, que, duas semanas depois, após ser “obrigada” a trocar seu antigo celular por um I-Phone, me confessa – assustada com tanta facilidade – que se pegou checando seus e-mails enquanto esperava por um amigo em uma praça. Mas, volto à Santa Cruz e explico: Essa pequena cidade, cenário do filme The Lost Boys (1987), possui nada mais nada menos do que um parque de diversão à beira-mar, o Boardwalk. Impossível ficar parado. Ali não se vai à praia para sentir a brisa do mar e ver o tempo passar, mas sim para sentir “adrenalina” na Giant Dipper, ou como disse Arnaldo Antunes “Qualquer coisa que se sinta...”. Nesse ponto, me lembro também do Admirável Mundo Novo do Huxley (1932) que nos mostrou a administração total do tempo livre (e não livre) pela indústria em seu romance assustador e cada vez mais condizente com a realidade. Porém, engana-se quem pensa se tratar de algo novo. A fundação do parque data do início do Séc. XX (quase 30 anos antes de Huxley escrever sobre o “Mundo Novo”)...

E por falar em não ficar parado... estou sentido falta de um museu à moda antiga. Um dos cartões de visita da cidade de Monterey é o Aquário da cidade. Ah, quanta propaganda do “maior e mais conhecido aquário de água salgada do mundo”! Desculpem, mas trata-se de mais um cardápio mais saboroso que a comida! Além de não ser nada muito melhor do que o California Academy of Science de San Francisco (que tenta ridiculamente reproduzir a floresta amazônica), tem interatividade demais... e como diz o Alex... eu sou muito “monoprocessada” para essas coisas. O fato é que preciso de um tempo meu com o que é mostrado, e esse tempo não é permitido por aqui. Por outro lado, o Pier de Santa Cruz nos permite observar os leões marinhos a brincar no mar... e eu poderia passar horas e horas ali (mais interessante e barato que o Aquário). 

Das três cidades que ficamos um pouco mais de tempo, minha preferida foi, sem dúvida, Carmel. Dizem que é uma espécie de Campos do Jordão americana. De todo modo, não sei, porque nunca estive em Campos. O que sei é que Carmel by the sea, como o próprio nome diz, é uma cidade à beira mar. Mas, ela tem clima de serra (ao menos nessa época do ano). Embora eu preferisse algo mais quente, ficar nessa cidade se mostrou uma surpresa muito agradável - e mesmo com o vento gelado não deixamos de ir até a praia, deitar sobre a canga e ver o pôr do sol. Carmel é composta por muitas galerias de arte, boa comida e pessoas acolhedoras. Foi delicioso chegar à pousada no final da tarde e encontrar um bom vinho nos esperando em frente à lareira! Depois, chegar no quarto e encontrar chocolates sobre a cama! Ah, eu bem que merecia isso todos os dias!!

Fotos aos curiosos: clique aqui! :P

PS: Adorei a viagem e cada lugar que passamos e visitamos. A experiência sempre vale à pena... e a companhia ainda mais! (Em breve mais posts...).

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