sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Filosofia de lavanderia…



Dentre as coisas mais difíceis de mudar em nós estão nossas obsessões e compulsões, nossos velhos hábitos arraigados em nossa alma desde a pequenez da infância. Eles só mudam se for de sintoma, ou então por algum milagre das tecnologias do comportamento ou da psique - tão “desenvolvidas” em nossos dias... Não adianta mudar de país. Aliás, mudar de cultura pode fazer você ver em você o que antes não percebia. Detalhes do dia-a-dia, muitos, fruto da nossa própria cultura. Pois é, culturas também têm suas obsessões e nós espelhamo-las. Quer um exemplo? Vamos lá...

Limpeza.  Quantas vezes por semana você liga sua máquina da lavar roupas? Quantas peças de roupa são lavadas por vez? Quantos tipos de critérios você utiliza para separar e lavar as roupas? Quais você lava no tanque? Quais você coloca na máquina? Essas perguntas, tão simples, fazem todo o sentido, não é? Aprendemos, logo quando saímos da casa de nossos pais, a árdua tarefa da limpeza de nossas vestimentas. No início nada faz muito sentido, mas depois de uma ou duas blusas manchadas e uma calça cheia de pelinhos da toalha, vamos aprendendo que é melhor seguir as sugestões da mãe.

Minha máquina de lavar roupa foi o que de mais caro já comprei na vida (e de pensar que ela está solitária, trancada em um apartamento sem utilização!). Conquistas de uma mulher emancipada.  Quantos dias, enquanto eu escrevia páginas e páginas da minha dissertação, ela fazia o trabalho pesado! Pois bem, o que fazer quando você muda para um lugar onde não é possível ter máquina de lavar e sequer um tanquinho (elétrico ou não) em casa? Fácil: lave suas roupas em uma Coin’s Laundry! “Maravilhas” que só a América faz por você!

Esqueça tudo que você sabe sobre lavar roupas.  Junte o máximo que puder. Leve em uma sacola GRANDE junto com seu sabão e amaciante. Escolha uma das 32 máquinas. Nem pense quantas vezes aquela máquina foi usada antes de você chegar. Respire fundo e espere 30 minutos até o ciclo terminar. Pronto? Não. Casa que não tem tanque não tem varal. Escolha umas das 32 secadoras. Acabe com suas moedas de 25 cent’s, se não tiver o suficiente, troque mais dólares por moedas de 25 cent’s. Espere cerca de mais 40 minutos.  Observe as pessoas a sua volta, todas ali no ambiente coletivo fazendo algo que seria tão pessoal! Todas juntas e, ao mesmo tempo, separadas: Americanos, indianos, mexicanos, japoneses, chineses, africanos, árabes, brasileiros, mulçumanos, cristãos, judeus, budistas, ateus. Crianças, velhos, jovens, adultos, solteiros, casados, viúvos, desquitados. Não há qualquer comunicação.

Não fosse o ambiente tão taciturno, influenciado pelo reflexo prateado futurista, caberia cantarolar as cantigas das lavadeiras nos riachos, só pra fazer algo enquanto o colorido misturado de tons e tecidos dança entre bolhas de sabão... e faz surgir a questão: se aqui parece tão natural juntar tudo numa coisa só, se a intimidade invade um espaço público, se não há separação nem de roupas nem de pessoas,  se o mundo se vangloria dessa miscigenação, por que ainda estamos presos em nossos velhos hábitos e preconceitos?

Desenho feito por Jana Bouc, artista da San Francisco Bay Area,

Um comentário:

Alex Beijos disse...

Realmente é estranho ver nossas meias, cuecas e calcinhas, girando em uma maquina com tampa de vidro... Onde qualquer um pode ficar "assistindo".
Alex Beijos.